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23 março, 2007

Sapatos de Lata... | nº 2

Eu sempre gosto de contar o porquê do nome do blog.

A primeira postagem, em 13/07/2007, define ‘Sapatos de Lata’ de forma subjetiva. A pedido de alguns colegas [aconselhado e encorajado também] tentarei escrever do jeito que costumo falar. Não utilizarei a oralidade na grafia das palavras como costumo fazer em poemas. Apenas tentarei ser o mais objetivo possível.

‘Sapatos de Lata’ é um brinquedo feito com duas latas de leite em pó. Estas são unidas por um fio ou corda. Colocam-se os pés sobre a lata. Um pé em cada. O fio deve passar entre os dedos, igual aos chinelos. Então, é só andar!

Tudo começou quando fotografei dois meninos de rua. Eles brincavam, pulavam, corriam, sapateavam, sempre em cima das latas. Reviravam o lixo também. A cena ocupou meus pensamentos por muito tempo. Acredito que nunca os desocupará.

Pensando nos meus [supostos] problemas... o que são eles diante das dificuldades desses meninos?

Meninos sem oportunidades... Vi a entrega e alegria deles enquanto brincavam. Parecem esquecer por alguns instantes as dificuldades, as carências, a vida sofrida. Nem lembram que o brinquedo é também sapato. Apenas brincam e, nesse breve momento, são crianças. Puras, verdadeiras,... crianças!

A pureza e o verdadeiro da alma e do espírito humano. É esta essência que busco. Revelada por um brinquedo, tão comum na minha infância: ‘Sapatos de Lata’, metáfora da minha busca. Traz esperança mas me causa angústia, pois como posso "exigir dignidade na miséria”? Com tanta desigualdade e um constante estímulo para o consumo , numa sociedade em que as pessoas valem pelo que tem. Tenho crises de identidade, não sei se sou ou se tenho.


A ilustração é de Eduardo Arnold Engel. Nela, outro modelo do brinquedo.

18 março, 2007

Ei você, me dá uma ajuda?

A corda [sempre] arrebenta do lado mais fraco.

Moradores das proximidades do local, onde caiu o avião da Bahia Táxi Aéreo, contendo mais de R$5 milhões, estão sofrendo as conseqüências da infeliz sorte. Não bastassem os supostos policiais que tiraram uma parte do dinheiro das mãos de alguns [conforme relatou um rapaz na TV], agora, temem a chegada de grupos armados em busca de uma “ponta”. Uma fazenda foi invadida e assaltada. Os bandidos levaram a televisão, jóias, o rádio e até uma espingarda, conforme matéria do A TARDE On-line, neste sábado.

O dinheirão motiva diversos debates nas rodas de amigos, no trabalho e na rua. O dialogo é mais ou menos assim.

– E aí, o que você faria se estivesse próximo ao local do acidente?

– Oxi, pegaria logo um bolinho daquele pra mim.

Ou então:

– Rapaz, você viu o bolão de dinheiro?

– e não vi não foi.

– Os caras estão devolvendo o que pegaram. Devem estar com medo de represálias.

– Que porra nenhuma, eles são é burros. Aaah eu lá, queria ver eu devolver. Entocava logo um bolo daqueles. Um bolo daqueles... um só meu deus.

Outras formas de relatar o assunto aparecem, mudam-se as palavras, permanece o teor. Ninguém sequer lembra das pessoas mortas no acidente. Talvez, apenas os familiares.

NO BUZÚ, SÁBADO À TARDE.

O ônibus é da empresa Dois de Julho. A linha: Terminal da França - Vila de Abrantes [número 047]. Sentido Abrantes, por volta das 17h.

Estava com a minha meninota. Íamos devolver uns filmes alugados no Shopping Estrada do Côco. Ela pediu para mudarmos para a cadeira alta, com braço. Antes de alcançarmos a cadeira, outra menina apressadamente sentou. Resolvi sentar no penúltimo banco, lá atrás. Acredito que o rapaz tinha descido a pouco, no primeiro ponto da Avenida Dorival Caymmi. Quando vi o dinheiro, junto com a ‘pata-pata’ [aquele pente para cabelo crespo], não havia como devolvê-lo. Devia ter mais de R$50, não contei. Uma nota de vinte, algumas de dez e uma de cinco. Senti um frio na barriga. Antes que qualquer pensamento maligno aparecesse em minha cabeça, levantei-me e entreguei tudo ao cobrador. [- Algum passageiro deixou cair isso aqui]. Troquei de lugar, sentei atrás do vidro, de frente para o lado da cadeira dele. Percebi quando ele – cabelos pretos e óculos arredondados – colocou o dinheiro na sacola.

Muitos vão me condenar por não ter ficado com a grana. No entanto, prefiro os poucos que entenderão minha atitude. Esse dinheiro não me deixaria mais rico, não pagaria minhas dívidas, não me traria felicidade. Já perdi dinheiro [muito mais do que tinha ali], sei como é ruim, doloroso, angustiante. Sei que não vou mudar o mundo [sou apenas um beija-flor apagando incêndios com gotículas de água], mas, não quero me render a ele. Não quero ser cúmplice desse mundo, dessa humanidade perdida, desse sistema escroto. Quero viver fazendo o bem. Quero ir melhorando a cada instante, corrigindo minhas imperfeições. Quero me livrar dessa materialidade doentia. Preciso da sua ajuda.

16 março, 2007

Mais de lá

• São Tomé de Paripe, beleza [des]conhecida.


• Inema, fruto proibido.

14 março, 2007

Estive lá

São Tomé de Paripe é um daqueles lugares... encantadores!
Desconhecida pela maioria dos jovens (burgueses) baianos, suas águas tranqüilas são um convite para o banho. Pode-se andar dezenas de metros, parece não ter pressa em afundar. Um cais, aporta barcos ansiosos por passageiros rumo as ilhas da Baía de Todos os Santos.
Ao lado, a proibida e não menos bela, Inema.

Confira!!!



Fotos:
1.
Do cais pra areia. - 2. Da areia pro cais. - 3. São Tomé e Inema, 962m de altitude (Google Earth)

[PS: postarei mais algumas fotos em breve.]

De Bicicleta...

Hoje foi um dia especial.

Pedalei aproximadamente 17 quilômetros.

Trajeto, Casa - Faculdade - Casa.

Sempre à direita da pista, carros e ônibus tirando fino.

Adrenalina circulando pelo corpo.

Programa a muito pretendido por mim, a pedalada me fez bem.

Espero o próximo dia...

... espero largar o cigarro para a sensação de liberdade ser completa.

09 março, 2007

TRUMAN: EM BUSCA DA LIBERDADE

foto 1: http://www.blogfrei.de –•- foto 2: http://www.mostlyrisible.com/images

Dirigido por Peter Weir, O Show de Truman: o show da vida, com aproximadamente 103 min de duração e roteiro de Andrew Niccol, foi lançado em 1998 nos Estados Unidos, pela Paramount Pictures. Peter Lindsay Weir é australiano, de Sydney, e iniciou sua carreira de cineasta em meados dos anos 70. Recebeu indicações ao Oscar de melhor diretor pelos seguintes filmes: A Testemunha, em 1985, Sociedade dos Poetas Mortos, em 1989, O Show de Truman, em 1998, e por Mestre dos Mares – o lado mais distante do mundo, em 2004. Este último, por sinal, obteve mais nove indicações para a tão disputada estatueta, ganhando nas categorias de melhor fotografia e melhor edição de som. Ganhou dois prêmios Bafta de melhor diretor com Mestre dos Mares (2004) e Show de Truman (1998); o filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989) arrebatou um César de melhor filme estrangeiro e levou Weir a receber sua segunda indicação ao Globo de Ouro como melhor diretor. A primeira foi com A Testemunha (1985) e a terceira com O Show de Truman (1998). Já dirigiu cerca de quinze filmes e é conhecido pela capacidade de fazer com que atores de ação e comédia – Mel Gibson, Harrison Ford, Robin Williams e Jim Carrey – interpretem papéis dramáticos com desenvoltura e credibilidade.
O filme conta a história de Truman Burbank, um vendedor de seguros, que vive desde o nascimento vigiado por câmeras de televisão, vinte e quatro horas por dia. Ele leva alegria e esperança para milhões de telespectadores em todo o mundo, sem saber que é a estrela de um reality show, mercadoria e vítima de um sistema dominador, que procura atender seus interesses, impondo um modelo social permeado por uma falsa e ilusória ideologia. É importante salientar, fundamentando-se na teoria crítica, a existência de duas perspectivas abordadas no filme: a do mundo conhecido por Truman, e a dos telespectadores do grande show. O programa é cria da indústria cultural, produzido do alto pelas instituições sociais dominantes, que determinam o processo de consumo, instaurando na audiência uma reação automática e irreflexiva perante àquilo a ser consumido. Esse fato pode ser observado nas cenas em que aparecem as garçonetes, os policiais, as duas senhoras e o rapaz da banheira, pois essas pessoas estão constantemente assistindo ao show, inclusive em seus locais de trabalho e no correr da noite, não demonstrando preocupação com o fato de Truman viver todos os dez mil novecentos e nove capítulos aprisionado para entretê-los e vender-lhes os variados gêneros de produtos circulantes no sistema de livre-mercado. Não são capazes de tomar decisões sem a intervenção de agentes externos (autonomamente) e passam a aderir acriticamente aos valores impostos e dominantes, difundidos pelos meios. Truman, por sua vez, é a personificação dessas pessoas. Vive em um mundo controlado, onde produtores se conjugam harmonicamente, determinando os padrões de consumo, tendo como objetivos principais a venda de mercadorias e o lucro acima de tudo, não importando a qualidade do produto, nem se estão sendo dignos com a humanidade e a sociedade. Não importa como Truman se sinta, ele faz parte desse modelo forçado e assim deverá permanecer. Eis aqui um ponto fundamental do filme, mostrando algumas das fragilidades da teoria crítica. No desenrolar do filme, o diretor vai deixando transparecer um contato feito, em capítulos anteriores, entre Truman e Sylvia. Ela tentou alertá-lo sobre a condição vivida por ele e por isto foi expulsa. Desde então, Truman começa a amadurecer um desejo de encontrá-la, de viajar para conhecer outros lugares. Isto mostra que os indivíduos não são totalmente desprovidos de autonomia, consciência e capacidade de julgamento, como previa a teoria crítica, nem que a mentalidade das massas é algo imutável. O indivíduo, a partir de um conflito interno, passa a refletir acerca do todo criado, age unidimensionalmente, buscando, conforme Marcuse (apud Guareschi, 1991:59), afirmar, “a partir de sua interioridade”, um mundo possível, eternamente superior e essencialmente diferente do mundo real. Os produtores do show fazem de tudo para tirarem essa possibilidade de emancipação, tentam instaurar o medo através do rádio e da televisão e, até por meio de cartazes, alertando para o perigo de doenças, ataques terroristas e desastres naturais. Cristhof, principal responsável pela criação do mundo de Truman, foi perguntado, em uma entrevista para a televisão externa, o porquê de Truman nunca ter chegado perto de sair, de descobrir a natureza real do seu mundo. Ele respondeu que as pessoas simplesmente aceitam a realidade do mundo no qual estão presentes, mas que se Truman estivesse realmente determinado a descobrir a verdade não haveria como detê-lo. Aconteceu que Truman não estava mais aceitando essa realidade de mundo e foi buscar, como bem coloca Guareschi (1991:54), a liberdade de consciência para se ver livre da coerção auto-imposta, a partir da constatação de determinados tipos de frustrações e sofrimentos, causados pela falsa ideologia que lhe impunham. Enfrenta seu medo do mar e começa a velejar em direção à Sylvia, às ilhas Fiji, à emancipação, à liberdade! Sobrevive a uma imensa tempestade propositalmente provocada e chega, enfim, ao portão de saída. Após um rápido diálogo com Cristhof, que tentava persuadi-lo pela última vez, Truman executa sua saudação padrão (de muito sucesso perante o público) – “caso não os veja de novo, tenham uma boa tarde e uma boa noite” – acompanhada de uma enorme reverência e atravessa a porta levando ao delírio milhões de telespectadores que, de certa forma, também estavam se libertando do consumo desenfreado e irreflexivo.
O Show de Truman é um filme de qualidade e muito interessante para os profissionais e estudantes de Comunicação Social e da área de humanas em geral. Também se adequa a intelectuais e pessoas que gostam de discutir as relações de dominância presentes na sociedade capitalista, justamente porque aborda a manipulação exercida pelos meios de comunicação de massa, num contexto de indústria cultural, levando todos esses, com alguma base em teoria critica e indústria cultural, a inquirir sobre tais relações.

REFERÊNCIAS:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 3.ed. Curitiba: Positivo 2004.

GUARESCHI, Pedrinho A.__________ In. Comunicação e controle social. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. p.52-67.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

OLIVEIRA, Luciano A. Manual de sobrevivência universitária. Campinas, SP: Papirus, 2004.

WEIR, Peter. O show de Truman: o show da vida. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1998. 1 disco de vídeo-digital (103min.) DVD-VÍDEO. NTSC.


Resenhista: GUSMÃO, G. F.* Estudante do curso de Comunicação Social com habilitação em Produção Editorial da Faculdade Hélio Rocha, segundo semestre. Endereço: Piatã – Salvador/ BA.
* Atualmente curso jornalismo nas Faculdades Jorge Amado

05 março, 2007

Palco do Rock


Bombardeado pela mídia você, vazio, enche-se de prenoções. Curte as superfluidades mercadológicas, empurradas na sua goela, pior, na sua mente.

Despreza o grito de resistência fluindo ao seu redor. Um grito alternativo, protestando contra a opressão que atinge a todos nós.

A mídia oprime e cria a imagem que bem entende das coisas, dos movimentos, da música. O que é bom? Relatividade a parte, para ela é aquilo que gera lucro, muita grana!

O bom moço não existe.

Chega dessa moral hipócrita.

Somos seres humanos e vivemos no mundo das maravilhas, da pura ilusão.

O branco da paz perdeu sua luz.

Aqui, a paz veste preto!

Então, vamos vestir preto, o preto da paz, o preto da alternatividade, o preto do protesto, da atitude de negar toda essa m...(!) que vomitam em nossos ouvidos e hipodermicamente tentam nos injetar.

As portas da percepção devem se abrir, eis o símbolo, eis a chave O=”.

Esse é o Palco do Rock.

Paz! Negra, porque a branca é conseguida (?) com guerras.

Música! Grito de protesto contra as formas de opressão.

Ideal! Fraternidade, em prol da causa comum.

Foto: www.masdistorsion.com/clases/guitarra.jpg