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09 março, 2007

TRUMAN: EM BUSCA DA LIBERDADE

foto 1: http://www.blogfrei.de –•- foto 2: http://www.mostlyrisible.com/images

Dirigido por Peter Weir, O Show de Truman: o show da vida, com aproximadamente 103 min de duração e roteiro de Andrew Niccol, foi lançado em 1998 nos Estados Unidos, pela Paramount Pictures. Peter Lindsay Weir é australiano, de Sydney, e iniciou sua carreira de cineasta em meados dos anos 70. Recebeu indicações ao Oscar de melhor diretor pelos seguintes filmes: A Testemunha, em 1985, Sociedade dos Poetas Mortos, em 1989, O Show de Truman, em 1998, e por Mestre dos Mares – o lado mais distante do mundo, em 2004. Este último, por sinal, obteve mais nove indicações para a tão disputada estatueta, ganhando nas categorias de melhor fotografia e melhor edição de som. Ganhou dois prêmios Bafta de melhor diretor com Mestre dos Mares (2004) e Show de Truman (1998); o filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989) arrebatou um César de melhor filme estrangeiro e levou Weir a receber sua segunda indicação ao Globo de Ouro como melhor diretor. A primeira foi com A Testemunha (1985) e a terceira com O Show de Truman (1998). Já dirigiu cerca de quinze filmes e é conhecido pela capacidade de fazer com que atores de ação e comédia – Mel Gibson, Harrison Ford, Robin Williams e Jim Carrey – interpretem papéis dramáticos com desenvoltura e credibilidade.
O filme conta a história de Truman Burbank, um vendedor de seguros, que vive desde o nascimento vigiado por câmeras de televisão, vinte e quatro horas por dia. Ele leva alegria e esperança para milhões de telespectadores em todo o mundo, sem saber que é a estrela de um reality show, mercadoria e vítima de um sistema dominador, que procura atender seus interesses, impondo um modelo social permeado por uma falsa e ilusória ideologia. É importante salientar, fundamentando-se na teoria crítica, a existência de duas perspectivas abordadas no filme: a do mundo conhecido por Truman, e a dos telespectadores do grande show. O programa é cria da indústria cultural, produzido do alto pelas instituições sociais dominantes, que determinam o processo de consumo, instaurando na audiência uma reação automática e irreflexiva perante àquilo a ser consumido. Esse fato pode ser observado nas cenas em que aparecem as garçonetes, os policiais, as duas senhoras e o rapaz da banheira, pois essas pessoas estão constantemente assistindo ao show, inclusive em seus locais de trabalho e no correr da noite, não demonstrando preocupação com o fato de Truman viver todos os dez mil novecentos e nove capítulos aprisionado para entretê-los e vender-lhes os variados gêneros de produtos circulantes no sistema de livre-mercado. Não são capazes de tomar decisões sem a intervenção de agentes externos (autonomamente) e passam a aderir acriticamente aos valores impostos e dominantes, difundidos pelos meios. Truman, por sua vez, é a personificação dessas pessoas. Vive em um mundo controlado, onde produtores se conjugam harmonicamente, determinando os padrões de consumo, tendo como objetivos principais a venda de mercadorias e o lucro acima de tudo, não importando a qualidade do produto, nem se estão sendo dignos com a humanidade e a sociedade. Não importa como Truman se sinta, ele faz parte desse modelo forçado e assim deverá permanecer. Eis aqui um ponto fundamental do filme, mostrando algumas das fragilidades da teoria crítica. No desenrolar do filme, o diretor vai deixando transparecer um contato feito, em capítulos anteriores, entre Truman e Sylvia. Ela tentou alertá-lo sobre a condição vivida por ele e por isto foi expulsa. Desde então, Truman começa a amadurecer um desejo de encontrá-la, de viajar para conhecer outros lugares. Isto mostra que os indivíduos não são totalmente desprovidos de autonomia, consciência e capacidade de julgamento, como previa a teoria crítica, nem que a mentalidade das massas é algo imutável. O indivíduo, a partir de um conflito interno, passa a refletir acerca do todo criado, age unidimensionalmente, buscando, conforme Marcuse (apud Guareschi, 1991:59), afirmar, “a partir de sua interioridade”, um mundo possível, eternamente superior e essencialmente diferente do mundo real. Os produtores do show fazem de tudo para tirarem essa possibilidade de emancipação, tentam instaurar o medo através do rádio e da televisão e, até por meio de cartazes, alertando para o perigo de doenças, ataques terroristas e desastres naturais. Cristhof, principal responsável pela criação do mundo de Truman, foi perguntado, em uma entrevista para a televisão externa, o porquê de Truman nunca ter chegado perto de sair, de descobrir a natureza real do seu mundo. Ele respondeu que as pessoas simplesmente aceitam a realidade do mundo no qual estão presentes, mas que se Truman estivesse realmente determinado a descobrir a verdade não haveria como detê-lo. Aconteceu que Truman não estava mais aceitando essa realidade de mundo e foi buscar, como bem coloca Guareschi (1991:54), a liberdade de consciência para se ver livre da coerção auto-imposta, a partir da constatação de determinados tipos de frustrações e sofrimentos, causados pela falsa ideologia que lhe impunham. Enfrenta seu medo do mar e começa a velejar em direção à Sylvia, às ilhas Fiji, à emancipação, à liberdade! Sobrevive a uma imensa tempestade propositalmente provocada e chega, enfim, ao portão de saída. Após um rápido diálogo com Cristhof, que tentava persuadi-lo pela última vez, Truman executa sua saudação padrão (de muito sucesso perante o público) – “caso não os veja de novo, tenham uma boa tarde e uma boa noite” – acompanhada de uma enorme reverência e atravessa a porta levando ao delírio milhões de telespectadores que, de certa forma, também estavam se libertando do consumo desenfreado e irreflexivo.
O Show de Truman é um filme de qualidade e muito interessante para os profissionais e estudantes de Comunicação Social e da área de humanas em geral. Também se adequa a intelectuais e pessoas que gostam de discutir as relações de dominância presentes na sociedade capitalista, justamente porque aborda a manipulação exercida pelos meios de comunicação de massa, num contexto de indústria cultural, levando todos esses, com alguma base em teoria critica e indústria cultural, a inquirir sobre tais relações.

REFERÊNCIAS:

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 3.ed. Curitiba: Positivo 2004.

GUARESCHI, Pedrinho A.__________ In. Comunicação e controle social. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2001. p.52-67.

MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2003.

OLIVEIRA, Luciano A. Manual de sobrevivência universitária. Campinas, SP: Papirus, 2004.

WEIR, Peter. O show de Truman: o show da vida. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1998. 1 disco de vídeo-digital (103min.) DVD-VÍDEO. NTSC.


Resenhista: GUSMÃO, G. F.* Estudante do curso de Comunicação Social com habilitação em Produção Editorial da Faculdade Hélio Rocha, segundo semestre. Endereço: Piatã – Salvador/ BA.
* Atualmente curso jornalismo nas Faculdades Jorge Amado

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