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08 maio, 2008

(mais) um diálogo meio louco e filosófico



– Quem surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?

– A idéia.

– A idéia? Que idéia é essa rapaz?

– A idéia de que é a idéia quem veio primeiro.

– A idéia de que é a... Porra cara, num dá pra complicar menos não?!

– Velho, antes do ovo ou da galinha existiu a idéia de ovo e a idéia de galinha.

– É?

– Sim. Para o idealismo a concepção das idéias precede a sua realização concreta.

– Idealismo?

– Isso meu velho. Primeiro vem a idéia, depois a concretização.

– Hummm... Concordo não.

– Não concorda? Você acha que essa roubalheira toda que tem por aí é um ato impensado?

– Não, não, não. É TUDO MUITO BEM PENSADO!!!

– Então?

– O que me incomoda é pensar em algo que nunca senti...

– Agora é você quem está complicando.

– Cara, lembra quando Saramago chamou nossa atenção para o fato de sabermos olhar?

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”[1]

– E aquele professor que nos mandava escutar os sons do mundo?

– Claro!!! Bob Pai, né?

– Isso. Agora lembre do que vou te dizer: Sinta.

– Tô escutando.

– Sinta!!!

– Tô vendo velho, tô escutando... fala logo.

– Ver e escutar não são suficientes, é necessário sentir...

– Ah?

– ...sentir com os sentidos. Olhar, escutar, pegar, cheirar e saborear. Cores, sons, texturas, aromas e gostos.

–Aaaaaaaaaaah, então...

– Já parou pra pensar que...

– Para poder materializar algo mentalmente é necessário sentir?

– ...dentre as coisas que conhecemos apenas uma minoria é fruto da nossa percepção sensória? Ou seja...

– ...tivemos a oportunidade de conhece-las com nossos sentidos...

– Perfeito! E a maioria delas... você tem alguma idéia?

– Idéia?

– Muito bem, acertou!!!

– Você quer dizer que a maioria das coisas que conhecemos derivam de idéias?

– Das idéias que fazemos das coisas.

– Porra velho, essa volta toda pra chegar no mesmo lugar?

– Pensei que tinha entendido?

– E não entendi?

– Acho que não. A idéia vem depois do sentido. Pois como posso ter alguma idéia sobre algo, sem nunca tê-lo percebido com meus órgãos do sentido?
A partir do momento que tenho uma única experiência sensória desenvolvo uma idéia preliminar sobre o objeto ou coisa.

– Humm, faz sentido. (será?)

– Claro que faz! É assim que percebemos o mundo. Ou melhor, assim deveria ser...

– Deveria?

– Sim. O que venho dizendo é que as coisas estão aí independentes de nós as percebermos. A idéia de algo surgiu após alguém ter percebido esse algo, ou seja, peguei, cheirei, escutei, falei (provei) ou olhei e desenvolvi minha idéia, a idéia de como percebo esse algo, essa coisa.

– E eu com isso?

– Com isso você aparece, doido, querendo conhecer esse algo, elaborar a sua idéia dessa coisa.

– Obviamente.

– Porém, eu tenho o privilégio de escolher como você vai perceber...

– Por quê? Você é dono dos meus sentidos?

– Não, mas posso, ao invés de deixar que você sinta, descrever a coisa para você. Aí, você irá construir uma idéia baseada na minha e não nos seus sentidos. Essa idéia preliminar formada por você será ajustada ao longo de novas experiências “ideísticas” até que você ajuste-a “definitivamente” quando puder senti-la com seus aparelhos sensoriais.

– Porra!!! Você bebeu o quê? Hahahahhaa, que viajem da porra!

– Pois é, bebi nada não. O mundo de hoje está assim, com muita gente conhecendo as coisas baseado nas idéias dos outros, que por sua vez ouviu a idéia de outro...

– ...e por aí vai, pouca gente sente...

–...é, pouca gente sente e por aí vai... contentando-se com a idéia formada, não buscando conhecer por si...

– ...desaprendendo a amar, desaprendendo a sentir

– desaprendendo a sorrir...

Vem cá, dá um abraço aqui...


[1] Livro dos Conselhos apud Saramago (1995, p.9)

16 comentários:

Unknown disse...

Mas... quem veio primeiro mesmo?
hehehehehe....

Anami Brito disse...

Nossa que difícil, quem veio 1º???rs....

Existe na verdade uma preguiça de pensar, já que se tem os pensamentos e idéias formadas que alguém já pensou.

Ironico:"Então pra que pensar???Dá muito trabalho!!"

Jeniffer Santos disse...

tem q ter paciencia p entender =/


por onde andas?

=*

Anônimo disse...

discordo completamente dessa ideia de que para conhecer tem que sentir...
vou explicar!

Assisti um documentario sobre 3 irmãs cegas! Indicação de Verena la da sala.

Elas eram(são) cegas desde que nasceram.
Uma delas dizia que a melhor parte do dia era quando ela durmi e sonhava pq os sonhos dela era coloridos!
Que adorava ver o vermelhor e o azul. Agora me diga

cor não se sente. Como essa senhora cega conhece uma cor ja visto que ela nunca poderia ver uma?
meio obvio... ela imagina!!!!

imaginação é sensorial? pelomenos não da forma que é explicito no dialogo.

e sim esse doido ai fumou um do bom!@

Anônimo disse...

agora um comentario sacana...

Poha teve uma hora que comecei a axar que o cara tava querendo um lance sexual com vc,., "sinta"

Anônimo disse...

Má,
a galinha veio primeiro.

Jeni,
não tente entender, queira sentir. PS.: estou na minha passárgada.

Anônimo disse...

Anami.
É isso... claro que nem tudo podemos ver ou pegar, cheirar, ouvir, etc. para criar uma idéia própria, uma idéia nossa sobre algo.
Acho assim... nossa mente tem a capacidade de completar as coisas, de preenchê-las... por isso que muitas vezes conhecemos as coisas baseados na impressão que um outro alguém tem delas. De fato, como disse meu amigo Ricardinho mais acima (já já converso com você meu velho!!) não precisamos sentir para imaginar, mas sabe o porquê? Porque já se tem muitas idéias sobre tudo (como você disse) e isso atrapalha a nossa percepção das coisas. Pelo outro lado, ajuda muito. pois já pensou se pra tudo que você pensasse, imaginasse, você tivesse que sentir antes? Aposto que sua cabeça estaria incompleta, estaria faltando vários pensamentos para encaixar aos outros e formar assim toda uma gama de "imaginação" ou pensamentos melhor dizendo.

Anônimo disse...

Ricardinho.
sobre o comentário sacana... "prefiro não comentar" como diria Arlete Sales no papel da "Parenta" lá de "Toma Lá Da Cá". Sentir isso seria uma espécie de autofagia, pq as vozes no diálogo...

Por isso que gosto de você. Você "compra a briga" e vem pro bate-papo. Vejo-te no caminho contrário (contrário?). Sim, contrário ao estabelecido. Por isso talvez que reclame e não admita quando as coisas estão boas...

Você está certíssimo em discordar, e não é por que discordar seja um direito seu, mas pq não é necessário sentir para imaginar algo. ???? isso mesmo. A partir do momento que surgiu a primeira idéia, o "sentir" deixou de ser necessário... fora isto, tem o fato de nosso cérebro completar (preencher) as lacunas... (Será que isso não é pq sentimos o tempo todo?)
...quem disse que cor não se sente? se você fala "o céu é azul" é pq você provavelmente enxergou que o céu era azul. E o que é enxergar se não sentir com os olhos? Elas sentiam sim o vermelho, o verde, etc. Sentiam com os outros sentidos do corpo (ou da mente). A cor deriva da luz, da sua refração ... e cada uma ocupa um lugar diferente no espectro. Se elas provocam sensações apenas a visão eu não sei (só nascendo cego pra descobrir), mas duvido muito disso.
Atente para o seguinte, como temos os demais órgãos sensoriais eles podem sentir as coisas pela visão.

Trocando em miúdos... o fato é que deixamos de sentir as coisas, de experiência-las. O sentir não é mais necessário uma vez que nosso cérebro completa a coisa pra nós, idéias sobre algo se fundem para formar novas idéias sobre novas coisas...
Há na verdade não uma preguiça de pensar, mas uma não necessidade do sentir para que se entenda as coisas. E pra que sentir num "globo mundializado" como o nosso?
Acho que tá bom (por hora). Vou deixar uma reflexão... (prometa para você mesmo que não vai pesquisar na net, nem em livros,etc.), O QUE É UM ZEUGO? S

Menina Lunar disse...

filosofia, poesia, loucura, uma mistura de essências que já são por si mesmas a mesma coisa...
adoooro essa foto!
beijo!

Anônimo disse...

...e o que são elas? Apenas coisas...

Anônimo disse...

ok prometo que não vou pesquisar na net, mas faço a vc uma proposta... Não sei o que significa "ZEUGO". Na verdade não faço ideia. Proponho a vc me sugerir uma leitura (boa) que deslumbre o obnubilado olho do seu "cumpaero".

É dificil pra mim tentar entender o "sentir". Da forma que foi dita no dialogo. Não tenho definição de sentimento enquanto materia, como algo concreto.
Entendo que pessoas com deficiencia s tem alguns "sentidos" aguçados, na medida que na falta de algum "sentido", outro tome uma forma de compensar.

Da maneira que foi abordado por vc, deu a entender que o sentido seria crucial na maneira em que a sociedade moderna já ter pre-estabelecido todas as formas de se construir qualquer pensamento...

Anônimo disse...

penso que... isso n eh de um todo negativo. Ok que perdemos a essência das coisas, em compensação ganhamos em teoria, e n perdemos tempo batendo cabeça com coisas ja ultrapassadas... No mundo globalizado, quem perde tempo com essência é atropelado pelo consumo...

mas assim... ainda prefiro ler vc... destile... destile....
abçs

Anônimo disse...

Compreendo. Acredito que o legal não é “querer entendê-lo”. Tente refletir a partir dele, livre, leve e solto.
Começo brincando sobre uma questão bastante complexa (idealismo X materialismo; razão X emoção; etc.), tento conhecer os primórdios e chego a conclusão que a partir do momento que tomamos consciência de algo não precisamos mais sentir, pois podemos descobrir novas coisas baseados nessa (ou nessas) consciências que passamos a ter. Isso em uma pessoa, uma consciência isolada... Agora, imagine que uma pessoa cria várias idéias (consciências) daquilo que sente, então multiplique isso (tipo aquela brincadeira do e-mail: mande pra 10, se esse 10 mandarem pra mais 10 já são mais tantos... e por aí vai) criamos uma rede imensa de consciências (idéias) e elas nos ajudam a compreendermos as coisas. Ou seja, não precisamos mais sentir para entender, para compreender. Porém, a primeira consciência (ou idéia) sobre algo surgiu porque alguém a sentiu. Não estou dizendo que as coisas passam a existir após isso. Elas existem independentes de a percebermos. Sendo redundante, e para que nós possamos percebe-las não precisamos mais sentir pq alguém já sentiu uma vez e criou uma idéia daquilo...e aí vai.
Bem, não sei se ajudei ou compliquei mais. Minha intenção é mexer contigo. Provocar reações.

Não tenho uma bibliografia específica, tipo assim: “leia esse livro e vc vai saber tudo”.
Recomendo algumas coisas:
• O ponto de mutação (livro e filme) – o filme foi inspirado no livro. O autor é Fritjof Capra.
• Quem somos nós (filme)
• O mundo de Sophia – livro de Jostein Gaarder (distraia-se com o romance, compreenda as épocas... os filósofos)
• Ética nas organizações – este livro tem uma parte introdutória resumida, porém legal, que fala das épocas que a humanidade passou... Idade antiga, Media, Moderna e Contemporânea.
• O que é realidade – série primeiros passos da brasiliense...

Anônimo disse...

Nesse último comentário acima você chega no mesmo lugar que cheguei. Comecei naquela complicação toda e parto prum desfecho... a constatação de que não há mais espaço nem tempo para sentir. o mundo de hoje não permite isso... de hoje? Será que não foi sempre assim? Sei lá.
Quando os dois caras (o cara e o velho) falam juntos no final "de cá um abraço" eles já tinham passado por uma discussão filosófica e pela constatação de que algo assim, bem como o sentir, não tem mais espaço. Eles se abraçam para preencher essa lacuna...

Anônimo disse...

entendo...

Anônimo disse...

Zeugo é um instrumento musical...