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19 novembro, 2007

:: continuação ::

– Que viagem!!!

– Você é maluco!!!

Imagino alguns amigos de infância...

As pessoas [grande parte delas] não compreendem nada além do absolutamente normal. O que é normal? Qualquer coisa que não quebre a lógica do sistema. Povo é povo. Valemos pelo que temos. A desigualdade é culpa dos corruptos. A corrupção não está mascarada no “jeitinho brasileiro” ou nos pequenos desvios morais do dia-a-dia. Você sabe com quem está falando? Rico pode, pobre não. Chefe manda, empregado obedece.

Vivem isoladas da coletividade. Enclausuradas num egoísmo individualista. “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Ninguém confia em ninguém. O outro? Não são humanos suficientes para tanta preocupação.

Juro que não queria meter o futebol nesse papo, mas, diante de um Roberto da Matta e engolindo o sexto ”shopinho”, não há como deixar de fazer a referência. Sabem por quê?

Porque diante de tanto descaso, injustiças e preconceitos possuimos uma visão apequenada de nós mesmos e do nosso país. Pautamos nossas vidas num padrão Ocidental de desenvolvimento, onde o Estado Nacional Brasileiro é visto como péssimo e inferior em oposição a tudo que vem da Europa e dos Estados Unidos. Vivemos desunidos, desprezando os símbolos da pátria e idolatrando aquilo que vem de fora.

O futebol exorciza nossa autoflagelação e desconfiança, obrigando-nos a enxergar o quanto valemos a pena. Exprime uma associação profunda, uma identidade absoluta e indiscutível com o Brasil Real. Talvez seja por isso que Nelson Rodrigues sabiamente enxergou, na Seleção Brasileira de Futebol, a “Pátria de Chuteiras”. Em tempos de Copa do Mundo, principalmente, e no futebol em geral, o brasileiro é solidário, confiante e positivo. Deixa o subdesenvolvimento de lado e mergulha no drama da vitória do fraco sobre o forte, do pequeno contra o grande, do preto contra o branco e do pobre contra o rico. Carrega a bandeira, canta o hino e tem orgulho de ser brasileiro.

Por que não presenciamos esse comportamento no dia-a-dia? Que interesses escusos negam a adoração pelo país, permitindo-a apenas de quatro em quatro anos?

É graças ao futebol que o brasileiro se revela. Alegre, solidário, humano.

Seis chopes. Cinco claros e um escuro. Três cigarros. Duas idas ao banheiro. Sol da tarde próximo ao horizonte. Hora de ir. Pago a conta. Agradeço. Rosa educadamente fala: - Volte sempre.

Deixo o lugar pensando na conversa que nunca tive.

4 comentários:

Intrigando! disse...

esse tipo de conversa é muito mais comum do que imaginamos. Também é muito mais complexa e relaxante do que percebemos. Ja notou que agente ta sempre debatendo com a gente mesmo! Eu pelomenos sou assim. Converso tanto comigo mesmo que chego a discordar do meu próprio pensamento. Freud explica! Minha cabeça meu mundo Gilerme.

Intrigando! disse...

comentando o caso Rosa...

Branco alto, lendo e tomando chop a tarde no shoping.
Venceu o esteriotipo!

aposto que se fosse o vizinho dela, negro e favelado, alguem iria acompanhar...

mesmo pq o esteriotipo não garente o sono tranquilo da pequena rosa que meras desabrochar um emprego que ela estima a um ponto de confiar pra não aborrecer e no entanto pagar pra ver. Ou vc acha que o botão da Rosa não estava a palpitar? Entendo que se o mesmo o calote desse.A Rosa perderia uns trocados, mas ganharia uma bela obra... Ela levaria lucro se assim fosse caro Guileerrrme rs.

Guigus disse...

Troco altos papos comigo mesmo. Não tive a conversa com Rosa, pessoalmente, apenas em minha cabeça.

Guigus disse...

Sim. Pensei nisso apesar de não colocar no texto...