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25 outubro, 2007

Paciência de Frode

Um velho náufrago estava há 52 anos numa ilha desconhecida e deserta. Tinha como companhia apenas as cartas dum surrado baralho francês. Criou um mundo imaginário, onde cada carta e cada naipe tinham características próprias.

“Eu não as via como simples cartas de baralho, mas como cinqüenta e dois indivíduos de quatro famílias diferentes. Os de paus tinham a pele morena, o corpo bem estruturado, robusto, e cabelos grossos e encaracolados. Os de ouros eram mais magros, mais leves e mais graciosos; tinham a pele quase branca e cabelos lisos, prateados e brilhantes. E havia também os de copas; [...] mais brandos de coração do que os outros. Tinham corpo arredondado, bojudo, bochechas rosadas e uma cabeleira exuberante num tom de loiro claro. Faltavam os de espadas. Esses [...] tinham o corpo mais magro, mas não menos forte, a pele pálida, um rosto um tanto severo e duro, os olhos bem escuros e os cabelos pretos e desgrenhados”. [GAARDER, 1996: 185]

Desenvolveu um calendário também. Nele cada carta tinha um dia, uma semana, um mês e um ano. As estações não foram esquecidas – ouros na primavera, paus no verão, copas no outono e espadas no inverno.

Ele conversava com elas. Organizava-as em círculo ou puxava algumas do monte e passava horas conversando. Com o tempo as cartas ganharam vida.

Frode, o velho náufrago, jogava paciência para passar o tempo, mas não apenas essa tradicional a qual conhecemos. Ele inventou uma forma diferente de jogar . Atribuía a cada carta uma frase, seguindo a ordem – do Ás ao Rei, de ouros, paus, copas e espadas -, embaralhava e as distribuía novamente. Recapitulava as frases no novo ordenamento e, então, surgia uma história. Esta trazia sempre revelações surpreendentes e interessantes.

Vejamos qual história resultará das "nossas" frases.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom esse artigo...Adorei saber que não sou a única coringa no baralho.
ass: Filosofa da musicalidade