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25 agosto, 2006

A verdadeira universidade

“A verdadeira universidade não se localiza num lugar específico. Não tem prioridades, não paga salários, não recebe taxas materiais. A verdadeira universidade é um estado de espírito. É a grande herança do pensamento racional que nos foi legada ao correr dos séculos e que não tem lugar específico para ficar. É um estado de espírito que se renova através dos séculos, graças a um grupo de pessoas que ostentam tradicionalmente o título de professor, título esse que, no fundo, também não faz pare da universidade. A verdadeira universidade é nada mais nada menos que o corpo contínuo da razão em si.
Além desse estado de espírito, a razão, existe uma entidade legal que, infelizmente, atende pelo mesmo nome, mas que é muito diferente. Esta é uma empresa sem fins lucrativos, uma filial do estado, com endereço específico. Possui propriedades, pode pagar salários, receber dinheiro [...]
Porém, esta segunda universidade, a empresa legal, não pode ensinar. Não pode gerar novos conhecimentos, nem avaliar idéias. Não é a verdadeira universidade. É apenas o prédio da igreja, o cenário, o local onde se criam as condições favoráveis para que a verdadeira Igreja exista.
As pessoas que não enxergam essa diferença ficam sempre confusas, pensando que controlar o prédio da igreja é o mesmo que controlar a Igreja. Eles vêem os professores como empregados da segunda universidade que deveriam deixar a razão de lado quando lhe fosse solicitado e obedecer ordens sem objeções. Exatamente como os empregados de outros tipos de empresa.
Enxergam a segunda universidade, não a primeira.”
[PIRSIG, Robert M. Zen e a arte da manutenção de motocicletas: uma investigação sobre valores]

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