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27 fevereiro, 2009

Significado e outras coisas

"Dou valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam."
Gabriel Garcia Marques

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Muito boa essa frase do Garcia Marques. Já tinha sido apresentado ao seu conteúdo de outra forma, bastante curiosa.

Papai sempre gostou de animais: Cavalos, cachorros e passarinhos eram seus preferidos. Teve tudo que é tipo de passarinho, criou algumas raças de cavalo e várias de cachorro. Fox Terrier e Pointer Inglês, são sem sombra de dúvidas, as preferidas dele. O Pointer foi muito usado para caçar perdiz, antes de esta prática ser proibida no Brasil, por isso ele ficou conhecido como "O Cão Perdigueiro" ou, simplesmente, "Perdigueiro". Caçador de rara beleza é um verdadeiro espetáculo assistir ao cachorro campear buscando a caça; o pointer estica o corpo e endurece a cauda apontando a perdiz acuada, uma cena belíssima! Após o tiro, ele pega a perdiz e a leva ao dono intacta (descontando o estrago do tiro é claro). Papai caçou muito. Nunca foi bom caçador. Tiro só em alvo estático, parado. Tio Nabil, seu companheiro em algumas caçadas, acertava duas perdizes no mesmo levantar de vôo, com os dois únicos tiros de sua espingarda e com as aves indo para lados opostos. Ele dificilmente desperdiçava um tiro. Papai, ao contrário, espantava as perdizes com o estouro dos cartuchos.

Por que ele gostava (e ia) tanto caçar? Pelo prazer da coisa, pelo prazer de ver o cão perdigueiro... pelo significado daquilo para ele. Era muito mais prazeroso apreciar o cão caçando (e uma boa desculpa hein velhão?!).

Abaixo, transcrevo as palavras e o poema dele, presentes em seu livro – Ursa Maior: Versos e apontamentos (1989, p.110-111).

O CÃO PERDIGUEIRO
Ao amigo Luiz Sampaio, que conseguiu a proeza de bem caçar, sem perder a sensibilidade da alma.

Há poucas visões no mundo quanto um cão perdigueiro a campear. Disposição, sensibilidade e predestinação parecem resumir o quadro dinâmico a que se assiste. É tão gratificante à alma contemplar o talento e a acuidade desse incomparável animal, tanta emoção aflora nesse momento, tremulando o coração, fazendo fibrilar nervos e músculos, que não se pode imaginar, no mesmo homem que o acompanha e segue, virtudes ambíguas de sensibilidade d'alma e bom caçador. Ou por outra, ou bem se caça ou bem se aprecia. A emoção de assisti-lo, nunca me permitiu ser um bom caçador.

Quem assistiu, de um perdigueiro a gana,
O afã de ao cheiro descobrir a caça,
Terá decerto admirado a raça
Que das entranhas desse cão emana.

Não há intruso, que ao sabujo faça,
Perder a rota, que a perdiz encana.
E quando estaca, e a cauda abana,
Amarra a peça, sem fazer negaça.

Por um momento, preza e cão se fitam...
Num frenesi os corações se agitam,
O caçador espera o levantar...

E qual delírio de vulcão que troa,
Explode o tiro, que bem longe ecoa...
Saudando o instinto desse cão sem par!

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• O CÃO PERDIGUEIRO (Ernane N.A. Gusmão).

• Imagens aumentadas após um clique com o mouse.

4 comentários:

Jeniffer Santos disse...

...assino embaixo!

xêro!

Guigus disse...

colocar mais coisas... estava procurando o poema.

jorginho da hora disse...

Gosto muito de criar cachorros. Passarinhos, não aprovo.

Guigo, meu velho, desculpe a demora, mas é que estive meio afastado da net depois do carnaval e aí quando a gente retorna vem com um pouco de preguiça.

Abração!

Guigus disse...

Oh! Salve Jorginho. Depois de carnaval então...

Velhão, todo animal que criamos, aprisionamos. Só para esclarecer: Pássaros silvestres são proibidos, mas existem os "importados", há muitas gerações criados em cativeiro. Esses papai tem um ou outro até hoje. Tivemos grandes viveiros, enormes mesmos. Meu jardim é rodeado de pássaros de todos os tipos, livres, que visitam o lugar por conta própria, comer as frutas e resto de alpiste...

Papai inclusive foi um dos responsáveis pela inclusão do BICO DE LACRE na nossa avi-fauna, quanado soltou os primeiros exemplares pelo Estado afora.

abraço